O Tigre de Blake

William Blake, o grande poeta inglês que viveu no começo do século XIX, é chamado de "romântico" tão-somente porque seu trabalho desenvolveu-se no tempo do romantismo, escola literária e artística que durou, na Inglaterra, apenas uns 35/40 anos, esgotando-se por volta de 1835.

Os românticos eram egoístas e, em boa parte, fanáticos religiosos. Adoravam a Idade Média com seu desfile caquético de virgens cloróticas, igrejas góticas e uma sensação mórbida de inutilidade da vida, o que os induzia ao isolacionismo medieval. A Idade Média foi uma época em que, para levar uma vida espiritual, se acreditava ser obrigatório sair do mundo e ir viver em cavernas ou mosteiros. Isto deu origem à principal característica dos românticos: o egoísmo.

Blake não era nada disso. Em plena Revolução Industrial, ele escreveu dois livros de poemas denunciando as condições horríveis em que viviam as crianças pobres no Reino Unido: "Songs of Experience" e "Songs of Inocence".

Em homenagem a William Blake, vamos publicar a tradução de um dos seus poemas, feita por Nagib Neto.

Paulo Galvão

Tigre

William Blake

Tigre, tigre, brilho ardente

Nas florestas do poente,

Que mão imortal, que olhar formaria

A tua rara simetria?

Em que abismo distante, em que altura

Ardeu o fogo do teu olhar?

Em que asas ousaste te elevar?

Qual a mão ousou da chama se apossar?

Qual o ombro, qual a arte

Teceria as fibras do teu coração?

E tendo ele batido

Que terríveis pés, que terrível mão?

Qual martelo? Qual ferramenta?

Qual fornalha fundiu a tua mente?

Qual bigorna? Que força terrível

Ousa teus temores mortais abraçar?

Quando as estrelas lançaram seus dardos

(de luz)

E inundaram o céu com suas lágrimas,

Vendo Sua Obra Ele sorriu?

Ele que fez o cordeiro e a ti?

Tigre, tigre, brilho ardente

Nas florestas do poente,

Que mão imortal, que olhar formaria

A tua rara simetria?

Tradução: Nagib Anderáos Neto

neto.nagib@gmail.com

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