Esconde-esconde
Brinca de esconde-esconde
Olha-me de trás da cerca,
Sobe a montanha e escorrega
Para cada vez mais longe...
Fica por trás da cortina,
Queda-se dentro de um livro,
Ou pendura-se às palavras
Em busca de um abrigo.
Visita-me em noites insones,
Dorme aos pés da minha cama,
Mas desperta sempre antes
Que a manhã nos encontre.
Caprichoso e tão mimado,
Ele me olha, calado,
Nos mais imprópios momentos
Querendo ser escutado!...
Se não o ouço, ele foge,
Desembesta pela mata
Ou voa para as estrelas
E de lá, ele me olha...
Acorda-me nas noites frias
Arranhando a minha porta,
Uivando desesperado
Pelas minhas horas mortas.
Mas quando eu o chamo, ele vem,
E aconchega-se, feliz
Na barra da minha saia;
Não o perco por um triz!
Pega minha mão, paciente
Descrevendo alguma cena,
Nos recônditos da mente
Renascendo em um poema.