Restaurante de paredes invisíveis
Sou funcionário dos ingredientes,
Das facas e das panelas, dos paladares, do fogo,
Dos temperos da minha terra.
Páginas picadas com ervas finas,
Retalhos de frios e de tecidos,
Um pouco de amor, um pouco de dor,
Um pouco da nova, um pouco da velha vida.
Sou funcionário dos clientes de bocas e mentes famintas,
Sou funcionário dos funcionários,
Do tempo e do espaço,
Da inocência e da malícia.
Do sossego, do desespero,
Da minha poltrona, do meu leito,
Do escândalo da insatisfação, do segredo de um desejo,
Do sussurro, do prato do dia escrito no muro,
No meio-dia, durante o dia inteiro.
O ônibus da manhã me leva para o bistrô,
Onde eu luto contra o mal humor,
Contra as moscas, os ratos,
O cheiro do lixo e do ralo,
Onde eu vivo e trabalho por conta do favor.
Marginal senhor?
Só se for a minha poesia, Só se for o meu vestir,
Talvez o meu querer, a canção que ouço aqui,
Ou até o senhor, vai saber....E aí?
Nunca fui chefe, sou um simples cozinheiro do lirismo
As inquietações temperam os meus caminhos,
O sabor amargo do doce,
A solidão, o meu destino,
Os meus deveres e prazeres,
Temperam todas as horas úteis do meu expediente,
Eu senhor, sou um simples alguém que canta,
Que escreve, que lê e cozinha para toda essa gente,
Que não vê (O) além...
Simplesmente vê além.