Restaurante de paredes invisíveis

Sou funcionário dos ingredientes,

Das facas e das panelas, dos paladares, do fogo,

Dos temperos da minha terra.

Páginas picadas com ervas finas,

Retalhos de frios e de tecidos,

Um pouco de amor, um pouco de dor,

Um pouco da nova, um pouco da velha vida.

Sou funcionário dos clientes de bocas e mentes famintas,

Sou funcionário dos funcionários,

Do tempo e do espaço,

Da inocência e da malícia.

Do sossego, do desespero,

Da minha poltrona, do meu leito,

Do escândalo da insatisfação, do segredo de um desejo,

Do sussurro, do prato do dia escrito no muro,

No meio-dia, durante o dia inteiro.

O ônibus da manhã me leva para o bistrô,

Onde eu luto contra o mal humor,

Contra as moscas, os ratos,

O cheiro do lixo e do ralo,

Onde eu vivo e trabalho por conta do favor.

Marginal senhor?

Só se for a minha poesia, Só se for o meu vestir,

Talvez o meu querer, a canção que ouço aqui,

Ou até o senhor, vai saber....E aí?

Nunca fui chefe, sou um simples cozinheiro do lirismo

As inquietações temperam os meus caminhos,

O sabor amargo do doce,

A solidão, o meu destino,

Os meus deveres e prazeres,

Temperam todas as horas úteis do meu expediente,

Eu senhor, sou um simples alguém que canta,

Que escreve, que lê e cozinha para toda essa gente,

Que não vê (O) além...

Simplesmente vê além.

Fábio Rodriguez
Enviado por Fábio Rodriguez em 30/07/2013
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