O dédalo
As vezes, a noite, eu sinto minhas asas me levarem a um lugar quente. Um lugar onde dor alguma pudesse me atingir. E ali, nas sombras do meu quarto banhado pela escuridão, eu vejo meu sonho tomar forma...
Em verdade, é imenso o dédalo.
Em mentira, basta uma palavra!
- E já não há labirinto algum.
Em verdade, minha sensatez tem de ser analisada.
Em mentira, minha loucura vale mais que mil palavras.
E quando me sento em frente ao certo
estou sonhando novamente em beijar o errado.
E quem dirá que aquilo em que tanto erro
não seria meu certo,
meu tiro no alvo
rasgando a escuridão?
E quem dirá que meu coração trôpego
não estaria livre
se marchasse - manco - naquela errante direção?
Em verdade, estou doente, delirante.
Em mentira, desperta, deflagrante.
E quem me dirá
pra abraçar a verdade
e consumir agonia,
se em meu dedo repousa - lívida
a aliança que a mentira me fez coroar?
Em verdade, não existe a verdade.
Em mentira,
eu existo.
Esfrego os olhos, meu poema mudo não me segue, toma outro rumo. Rumo algum pra dentro de mim.