ATIVIDADE

O escorpião come as baratas

Então onde há baratas

Há de haver escorpião

Na mudez da noite

À sombra do teu silêncio

Rasteja a fera que espera

A presa ligeira que bobeia

Tudo isso na madrugada

Tudo isso enquanto bobeias

E sonhas amiúde

Acontecem coisas vis

Daquelas que não imaginas

Como a atividade rastejante

Das criaturas das latrinas

Ou a fome voraz das ratazanas

Nas galerias subterrâneas

Onde o gás metano atordoa

Onde jaz a borra da tua limpeza

Onde mora o avesso da tua beleza

O escorpião come as baratas

Mas nem sempre onde há baratas

Há escorpião

Mas está lá o rato

O fato

De que cegos que somos

Não vemos o que nos está

A um centímetro do nariz

Está lá a bactéria

A anti-matéria

O nosso eu desconstruído

A sub-vida fortalecida

No lodo do chafariz