Fome
A convalescência de minha alma relata meus delírios,
Tenho muita fome, mas nem as sobras me sobram,
Tudo é devorado, o Tempo devora a massa
Para eternizar a arquitetura esquelética de minha catedral
Na boca-de-lobo da Terra,
A boca do estômago faminto das cidades come as minhas mãos,
Minha miséria escarra vísceras ortográficas douradas
Para urubus black-ties alimentarem suas falências eruditas
E soprarem seu bafo literário em minha lápide,
Fraternidades vampiras esgotam meu sangue
Nas taças de prata com a insígnia cruel da compaixão
Fragmentando meu amor-próprio digerido em seus intestinos,
O Amor penetra em meu templo e devora a hóstia e o vinho
Comungando a Si e excomungando meu Eu,
Torno-me um desabitado de mim mesmo
Mendigando um pedaço de corpo no matadouro do ódio
Para proteger-me da chuva de adagas da misericórdia,
Imploro uma gota de sangue para matar a sede de meu orgulho
E depois destruir-lo pedindo esmola para tapar de ossos inoxidáveis
Meu crânio aberto e devorado por pensamentos cáusticos.