Fome

A convalescência de minha alma relata meus delírios,

Tenho muita fome, mas nem as sobras me sobram,

Tudo é devorado, o Tempo devora a massa

Para eternizar a arquitetura esquelética de minha catedral

Na boca-de-lobo da Terra,

A boca do estômago faminto das cidades come as minhas mãos,

Minha miséria escarra vísceras ortográficas douradas

Para urubus black-ties alimentarem suas falências eruditas

E soprarem seu bafo literário em minha lápide,

Fraternidades vampiras esgotam meu sangue

Nas taças de prata com a insígnia cruel da compaixão

Fragmentando meu amor-próprio digerido em seus intestinos,

O Amor penetra em meu templo e devora a hóstia e o vinho

Comungando a Si e excomungando meu Eu,

Torno-me um desabitado de mim mesmo

Mendigando um pedaço de corpo no matadouro do ódio

Para proteger-me da chuva de adagas da misericórdia,

Imploro uma gota de sangue para matar a sede de meu orgulho

E depois destruir-lo pedindo esmola para tapar de ossos inoxidáveis

Meu crânio aberto e devorado por pensamentos cáusticos.

Leandro Tostes Franzoni
Enviado por Leandro Tostes Franzoni em 26/07/2013
Reeditado em 30/11/2023
Código do texto: T4406031
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