Gratidão
Agradeço por estas luzes, estas cores,
Pela aura de mistério, pelas dores
Que se travestem de maré e ventania
A sair pela janela no fim do dia.
Agradeço por estas rosas da memória,
Este novo olhar sobre a história,
Pelo antigo otimismo, pela nova alma,
Pelo lânguido torpor, pela energia calma.
Agradeço, sim, agradeço também
Pela disposição indisposta pelo que não tem
Relação com ela, a paixão indigesta
Que não cansa de ler o que escreve na testa:
E escreve, em letras rubras e enormes,
O que não tem sentido, as formas disformes
Dos botões do presente que se vive agora,
Do que é vida hoje, sem futuro embora.
E enfim agradeço por ser e por estar,
Por comover, por acender, por instigar,
Por se interpor em meu caminho desta forma:
Sem aviso ou lei, sem regra, sem norma.