MURMÚRIOS
O tempo me leva sem pena,
sem pena ele me condena
a vagar pelo deserto
onde o sol a céu aberto,
arde, queima, é uma fogueira,
e o vento levanta poeira,
me deixando quase cego.
Loucura, imensa tortura,
me invade, eu não nego,
me sinto perdido no nada,
pois o tempo em disparada
carrega-me junto consigo,
é um feroz inimigo,
não faz mimos, nem perdoa.
Em meus ouvidos ecoa
o seu passo desumano,
como as vagas do oceano,
que vão, que vêm, sem ninguém,
ininterruptamente,
marulhando inconscientes,
dia a dia, hora a hora,
contando, talvez, sua história,
que a mim não interessa.
Tapo os ouvidos, depressa.
Inspirado no belo poema "Tempo Após Tempo" de Deley