Canção suicida

Antes era livre;

Dispunha de amplo

Firmamento teórico para aventuras

Amorosas e ontológicas,

Mas nunca conjecturei-me feliz,

Sabendo até que muito desejava tal emoção.

Certas associações tão óbvias

Não se conjugam neste mundo incongruente,

Enquanto algumas contradições surpreendentes

Enredam-nos facilmente nos viéses da vida,

Pois sendo amante devasso

De todas as fórmulas de lupanar

E de fêmeas filosofias ocidentais,

Não era feliz,

Não, ao menos, como um dia foram

Gregos ou romanos transfigurados

Pela apolínea beleza do Olimpo...

Contudo, hoje, quando circulo,

Sempre me deparo com paredes

Sem contradições, de crueldade,

Liturgia escolhida

De uma única profissão de fé.

Porém, nem tudo parece perdido...

Nelas, percebo sempre uma janela

Para, de monturos de arame e aflição,

Defenestrar-me, alcançando,

(Quem sabe?) após prisão e flagelo,

A medida vaga da aceitação,

Que vem de saber que o saber

Faz sofrer eternamente...