DEFINIÇÃO
Trago no rosto a marca do cansaço
e nos olhos a incerteza do amanhã;
nos ombros o peso do viver
e nas mãos trêmulas o medo de
estendê-las em vão.
Trago na garganta um grito contido
e na voz embargada a prudência
dos que desconfiam até das paredes
mas esperam o troar dos sinos
anunciando o novo tempo.
Trago na memória expressões de pavor,
berros de dor em plena madrugada
de irmãos seviciados por torturas
desaparecidos e vivos mortos que
antes, melhor fora, mortos vivos.
Trago na mente a desestruturação
daqueles vitimados pela escolha
entre os riscos da clandestinidade
e a omissão pela sobrevivência.
Portanto não me pergunte quem eu sou,
Sou você, seu pai, seu filho,
seu irmão, seu amigo;
sou uma geração sacrificada
Produto do AI 5.
Maio de 1983