TÃO SIMPLES

E eu vi que os pântanos de la são mais que profundos e não se pode atravessá-los sem medo

Ouvi ao fundo e ao longe o uivo selvagem de seres que não posso conceber

A minha volta a vegetação hostil de uma natureza impiedosa e rancorosa

E eu senti no ar os odores pútridos e vapores sulforosos de sabe-se la quais coisas

Já há tanto tempo imersas nas águas lamacentas daquele lugar

Nenhum azul nem no céu nem nos meus olhos

Os pássaros não cantam mais

Mas há silvos... longos quase intermináveis silvos dolorosos naquele lugar

E eu percebi que onde quer fosse este lugar não havia sequer vestígios de beleza ou bondade nele

Tudo ali tão velho e encarquilhado como a pele de um ancião deformado

E eu avançava devagar mesmo diante de meu desespero em sair dali depressa

O lodo me segurando enquanto o medo me empurrava

Senti o ardor de lagrimas que já nem sabia que tinha em olhos desacostumados a chorar

Meus olhos...

E naquele lugar esquecido e desconhecido de olhos humanos eu desisti e aceitei um destino que não sabia ao certo qual era

Esperei a dor...

Esperei o rancor...

Aguardei a morte...

Então ela estendeu-me a mão

Docemente...

Gentilmente...

Alçou-me de volta para onde tudo era terra firme

Para onde o solo tenha relva e as arvores tinham cor

Afagou meus cabelos beijou meu rosto

E disse...

Tão simples...

Céus tão simples

Ela disse...

Da próxima vez... peça ajuda.