cantilena de um descaminho em flor
fui
- vidas poucas atrás -
reclamar as flores
tantas não vividas
que debaixo de que sombras
me esqueci?
em redor de que árvores
naqueles dias
em beiras de rios
de ensurdecer
de águas passadas
o amor que nunca me ouvia
- que nunca me viu -
que tanto tempo parou!
Meu Deus...
pois
ouça-me
conta-me, por favor
que flor era aquela...
que até hoje me encantei
de pretéritos inda agora
mal conjugados
que flor era aquela
que guardei
num meio de mata
num meio de mim
que jurei buscar
num fim de vida
fosse bastante
- e eis que vida me basta, bastou-me -
e não fui
em meu derramado semblante
de vento
em meu derramado semblante
perfume
em meu derramado...
sol
ardente
água
ardente
...nunca fui buscar
que flor era aquela?
perdi trens
e pastas
e papéis
e horas
e me travesti de cores
por voltar
mas digo de vez
mendigo outra vez
e minto
e juro em voz
bem grave:
não voltei
hoje passo
peço
passo apenas
em raio
em rio
apenas
por passar
em mesma madrugada outra
madrugada hora
em que não reclamei
em que não lutei
pelo adormecer das nascentes
pelos clarões dos breus
em dias aqueles
que deviam ter sido
apenas criados
e dados a reprimaverar
...pétalas
de que flor?
eu passo
repito
repiso os pastos
repasso as trilhas
redesfaço caminhos
inversos:
bêbado
eu canto
feito quem passa
feito
quem canta
eu passo
e quase mesmo nem
ligo
que flor era mesmo aquela?