Excluído__Eu me drogo, sim!...
Quem pode viver por mim a angústia de saber
que, no dia que nasci, no despertar
da vida, já estava condenado a morrer?
Há como esse fatalismo esquecer:
O desabrochar, o caminhar, o murchar
e o abismo do não-ser?...
Como escapar da certeza, meu irmão,
Que só por nós mesmos, queiramos ou não,
A nossa vida
pode ser vivida,
pode ser sentida,
pode ser sofrida?...
Como escapar da certeza, meu amigo, minha amiga,
que só nós mesmos - e não há filósofo que não o diga -
podemos viver o nosso amor,
ou a angústia do dissabor,
ou o horror
da nossa solidão e dor?...
Seria alento, mas é penoso saber
que, para obrigatoriamente sorver
o cálice do nosso carma vivencial
e da nossa angústia existencial,
toda a ajuda do mundo podemos receber,
mas tudo isso só nós mesmos podemos viver!...
Como isso às vezes é tão terrível, desolador,
iníquo e massacrante,
é temerário afirmar, ó valente senhor,
que é frouxo e covarde, o pobre viajante,
que desiste da caminhada, no meio de tormentosa lida,
na fascinação do “nada” suicida...
E há também o que segue, tentando se esconder
da vida - ou do mistério de viver -,
o que sucumbe ao encantamento da sereia impura
que o convida às drogas, na viagem da loucura,
pois quem não sabe, um dia vai saber:
É perigoso viver!...
Mas, eu sigo intimorato, fugindo das apostas
e das armadilhas das perguntas sem respostas!
E proclamo que escapo desse escorregadio limbo mental
sem assumir compulsão ou compromisso
com álcool ou drogas, e que nunca me matei, afinal...
(Ou será que já morri e nunca soube disso?...)
E como escapo da angústia de mim? Calma, eu vos rogo,
pois confesso: na verdade, eu também me drogo,
porque tais coisas muito me atormentam... Mas, para esquecê-las,
dou um pico na veia da minha inspiração e viajo pelas estrelas,
pego a minha lira e canto às musas com alegria,
loucamente chapado do ópio da poesia!...