Ultravida

Ah! Devolva-me intacta

a brisa perdida nos descaminhos.

Que o cinza não cubra o arco-íris

e no rebento da onda

não me fuja a poesia.

Rejuvenesço,

enquanto o tempo

mata a vida nas dobras da pele.

Carcomidas pela ferrugem das horas

as dobradiças do tempo

não articulam novos movimentos.

A poesia flana na alma

enquanto a morte

agiganta-se na carne.

O corpo atracado no porto,

assiste ao poente

que repete paisagens do que foi

vivido, cismado, divagado, perdido.

A alma, em outras paragens,

navega em mar alto,

com a certeza

de que depois do porto

nada é findo, mas inefável...

Não há como fugir nem fingir, começo a crer:

há um desarranjo no duplo que me faz.

Cláudia Gonçalves & Ednilson de Paulo

Cláudia Gonçalves
Enviado por Cláudia Gonçalves em 05/04/2007
Código do texto: T439219