Ultravida
Ah! Devolva-me intacta
a brisa perdida nos descaminhos.
Que o cinza não cubra o arco-íris
e no rebento da onda
não me fuja a poesia.
Rejuvenesço,
enquanto o tempo
mata a vida nas dobras da pele.
Carcomidas pela ferrugem das horas
as dobradiças do tempo
não articulam novos movimentos.
A poesia flana na alma
enquanto a morte
agiganta-se na carne.
O corpo atracado no porto,
assiste ao poente
que repete paisagens do que foi
vivido, cismado, divagado, perdido.
A alma, em outras paragens,
navega em mar alto,
com a certeza
de que depois do porto
nada é findo, mas inefável...
Não há como fugir nem fingir, começo a crer:
há um desarranjo no duplo que me faz.
Cláudia Gonçalves & Ednilson de Paulo