SE DEUS VIER...QUE VENHA ARMADO

O profeta subiu o morro

Longa barba encardida

Vestia toga como convinha

Trazia na mão o imprescindível cajado

E nos pés calçava Adidas...

É quente e irregular o chão do morro e ninguém e de ferro

O profeta trazia na mente muitos capítulos e versículos

Muitos sermões na língua que não era presa

Trazia perdão ou assim achava

O profeta subiu o morro

Trazia consigo a revelação

O todo poderoso é quem mandara

Ele tinha provas muitas provas

Tinhas e-mails e sms...

Tinha registro das ligações

Deus nunca ligava a cobrar

O profeta subiu o morro

Viu esgotos a céu aberto

Deus tinha saneamento básico?

Viu crianças brincando maltrapilhas no lixo

Viu os bêbados nos bares

Os trabalhadores cansados voltando do longo dia

Viu mulheres de sorrisos largos

E senhoras de olhar triste

O profeta subiu o morro

Reuniu o povo pra ouvi-lo na quadra da escola de samba

Falou das coisas boas do reino do senhor

Não recusou uma cervejinha

O profeta trouxe sua boa nova

Mas não pediu permissão aos donos do morro

O “movimento” não gostou daquilo

Gente demais sorrindo e se distraindo

Burburinho que chamava atenção

O profeta subiu o morro

E nem viu de onde vieram os tiros

Caiu ao chão pesado e ignorante do que acontecia

Ali ficou... ali sangrou

O profeta respirou o odor de seu sangue e da terra

Quando a policia trouxe a ambulância já era tarde

Ele acenou para o paramédico

O profeta queria falar

Contrariado o homem inclinou-se para ouvir

As ultimas palavras do homem santo

Numa voz sumida e entrecortada e fraca

Se Deus vier... que venha armado.