Xícara de paz

Dentro da caneca a açúcar saturada, cansada e enojada da vida

é forçada a diluir se com cinco ou seis chacoalhões.

Nos óculos embaçado pelo vapor, vejo que ouço a canção da espanhola.

Mesma mesa de madeira.

Mesmo disco.

Diferentes poemas, questionamentos.

Mesma garrafa preta,

com pressão que provoca espuma e altera o sabor, humor e calor.

Mesma medida desmedida com pouca variação.

Quase pronto, mas não agora.

Falta póuco, para sempre.

Antes, é preciso coar a dor.

Não naquilo que é descartável e sem memória, de papel e cruel.

Mas onde existem marcas, cor, cheiro, e estórias em tecido.

Depois fica o que é líquido, suave e simbólico.

Fica o cheiro.

A essência que foi cuada e a dor, joga se fora.

Sento e tomo uma xícara de paz,

que eu mesmo fiz.