In Versos
Há nos versos-terremotos
Coesões indefinidas
Em cordões apalavrados
Pois da coisa se compõe
Ser naquilo entranhado
Parco sim essenciado
Há razão de menos ser
Sobre o pálido ferver
Dos teus olhos carbonados
Para ter cascalho verso
Esse vão de não querer
Para um sim do verso ser
Ou ter velho verso coxo
Neste quase acinzentar
Concebido pelo estar
Pelo verso a perder
Sua forma afunilando
Um frasquinho de seu sim
E o isqueiro cinzelante
Acendendo acha verde
Num brotar desgarantido
Pela forma sombra é
Nas esquinas do sentir
Serpentinas de palavras
Dançando momos mistérios
Que se escondem no impensado
Feito o peixe num anzol
E na queixa mais sofrida
Faz a boca despolida
Ir lamber o seu final
Ao mandar deitar destino
Se o verso é quem prefere
Babujar o original
E coçar quem socorreu
Com ideia na cabeça
E papel de versejar
Dê-me aqui o papelzinho
Tem a febre dos teus versos
Feito chumbo na linhada
Pois não sabe azul-menino
Que o verso é feito frio
Escondido na mantinha
Se o poeta é da pedra
É da flor ou do gemido
Tanto faz se for coberto
Mas se o verso se apresenta
E dá dor a quem inventa
Hematoma o que se toca
Outro verso jamais pode
Concorrer naquele escrito
Que nem vive no papel
Ou nas almas solitárias
Que o verso condenou
Ao papel de ser poeta
Se o papel de ser poeta
Fosse apenas ter escrito
O que nunca se escreveu
Se daria por finito
Quem de nós já se perdeu
No escrito inexistido
Por perder dentro de nós
A poesia que os olhos
Ao mundo condenou
Qual papel de ser poeta
Se poesia pode tudo
E o mundo é um poeta?