Saudade em prosa

Ai que saudade!...

Aquele cheiro de charque escaldado fervendo no fogo.

A gente brincando de carrinho no assoalho da casa.

A chuva iniciando manhosa, entre as nuvens e o sol a sua caminhada.

Que vinha, que vinha com um vento em força,

Mas depois acabava escorregando vagarosamente as gotas no telhado,

Que molhava o taperebazeiro e as roupas que saiam das mãos das lavadeiras,

Ao varal do terreiro.

As horas avançavam,

Os rádios estridentes jogavam musicas e notícias no ar.

A vovó dizia que a mamãe estava para chegar.

E a gente terminava a brincadeira para ir banhar.

Em fila ficávamos esperando a vez

Na única torneira da vila.

Que ainda ia para aula no intermediário tinha pressa,

Mas quem não foi por motivo de doença,

Aproveitava a tarde que já despontava na asa da esperança.

Ah como era bom brincar!...

Não havia luz elétrica,

Nem televisão para nos acostumar.

A infância era o ritmo da luz...

Carrinhos de lata, amassadeiras, pés de pau,

Barcos de papel e tantas invenções,

Que só terminavam quando as leituras, as histórias da vovó,

E a imaginação nos fazia viajar com as nuvens.