de que se nutre a sombra?
de que se nutre a sombra
senão da música de ossos
esmagados e tenros ao toque,
sobretudo quando irrompe
a luz nos cabelos
e a vida se torna
uma sonata
tangida por cadáveres-tubérculos?
de que se nutre a sombra
senão da fina flor de carne
amanhecida num ataúde-nada
junto à orla das águas sinuantes
principalmente em fúria de beijo
e próspero coração?
de que se nutre a sombra
senão de pássaros abatidos
pelo olhar glorioso
de caçadores urbanos
inclusive armados de escarros
e gume leve de palavras?
de que se nutre a sombra
eu pergunto)
senão de meus testículos
e línguas de fogo
erguidas às heresias
de jovens prostituídas
(ainda) no ventre paterno,
sombras diurnas,
estateladas contra a avidez dos répteis?