Silêncio Iconoclasta
Ouves o metrônomo quando a infância morre,
Pois a idade da inocência é livre da rítmica da vida;
Passas a contar as batidas criando músicas nos intervalos,
Úberes idéias transam fecundando ilusões guiadas pelo acaso,
A ambição idealiza os espaços seguintes criando os sonhos,
O desejo de criar o futuro o deixa mecânico como as batidas,
Passas a contá-las trabalhando como sua engrenagem
Em prol da espera de espaços maiores que nunca são suficientes,
A música do espaço oscila entre a harmonia e o caos
Em cada batida afrouxando as engrenagens da vida,
Agora somente conta as batidas
E usa os espaços para lembrar o que já fez
Pois as fibras onde o pulsar bate estão lassas demais
Para realizar o que os sonhos não cumpriram,
As batidas tornam-se mais fortes e o eco é um ruído longo
Que tapa qualquer possibilidade de uma música nova
Pois ele termina de ressoar apenas quando chega outra batida,
Uma batida estrondosa ressoa e os desejos e lembranças
Confundem-se construindo um altar de imagens cronológicas
Que são varridas para as trevas com o soar ensurdecedor
Do silêncio iconoclasta.