ODE SOARESIANA

Morrer morrer morrer e ficar vivo

sempre, eternamente vivo, tatuado em flor,

sentir pelos cabelos o nascer de um mundo,

de uma cidade, de uma planta sem fim, ozônica.

Viver no transparente, entre o bem e o mal

e não desperdiçar o último beijo nem a 1a palavra

ou não tornar a ser sobre essas pétalas

o que ninguém sonhou, nem sonha mais.

Viver mais que morrer, queimar em cheiros

soprar-se ao vento do hoje-amanhã,

cair na eternidade do pão verde de Deus

da deusa sem cabeça e olhos verdes...

Morrer mais que viver, aguar os dedos

com pérolas e olfatos e maçãs

e crer que cada dia é erva e luz.

Viver viver e viver até que a vida me percorra

com seu focinho de lantejoula

e abra na noite um túnel só de giz.

Don Aragone
Enviado por Don Aragone em 09/07/2013
Código do texto: T4378929
Classificação de conteúdo: seguro