ODE SOARESIANA
Morrer morrer morrer e ficar vivo
sempre, eternamente vivo, tatuado em flor,
sentir pelos cabelos o nascer de um mundo,
de uma cidade, de uma planta sem fim, ozônica.
Viver no transparente, entre o bem e o mal
e não desperdiçar o último beijo nem a 1a palavra
ou não tornar a ser sobre essas pétalas
o que ninguém sonhou, nem sonha mais.
Viver mais que morrer, queimar em cheiros
soprar-se ao vento do hoje-amanhã,
cair na eternidade do pão verde de Deus
da deusa sem cabeça e olhos verdes...
Morrer mais que viver, aguar os dedos
com pérolas e olfatos e maçãs
e crer que cada dia é erva e luz.
Viver viver e viver até que a vida me percorra
com seu focinho de lantejoula
e abra na noite um túnel só de giz.