Vivo
Vivo dos cheiros das flores contaminados de poluição
Vivo no ar desmatado de troncos queimados
sem transpiração.
Vivo em leis sem fiscalização com erros do coesão
Vivo nas canções perdidas que as massas agita
sem emoção.
Vivo num mar de areias sem cantos de sereias
Vivo num mar seco de sertão.
Vivo de restos de comida espalhados no chão.
Sou pessoa perdida, de uma só rima e terminação.
Vivo a tristeza das perdas e canto sozinha
os choros perdidos na multidão.
Sou voz aberta, de alma discreta e sem vaidade.
Gosto dos hippies cheios de arte e de verdade.
Vivo a saudade daquelas tardes na varanda,
Vivo nas borboletas que polinizam as flores no jardim.
Pego em espinhos sonhando com jasmim.
Sou aquela flor murcha que ainda não morreu.
Sou a dor da morte que permaneceu.
Vivo nos sorrisos de bebida, na boca desinibida,
que sorri das desgraças da vida.
Vivo num corpo carente de alma resistente,
e sou a fúria pulsante, bebê rastejante,
crescendo descrente.
Sou seguidora da realidade, que nessa meia verdade,
apagou as cores.
Sou o que resta de lirismo, no meio do cinismo e falsidade.
Vivo o medo do outro, o medo de mim.
Vivo a inconstância de um mudar sem fim.
Tati Dalat 03/07/2013