O CALVÁRIO DO MANCEBO

O CALVÁRIO DO MANCEBO

Aquele mancebo tinha mérito no currículo

No entanto enfiaram-no num cubículo

Seu saber vinha impresso em fascículos

Conhecia de botânica, até sobre funículo*

Sentia-se um lixo, exposto àquele ridículo

A sociedade e colegas viam-no por um retículo

Tentou rebelar-se escrevendo pífios textículos

Só ganhou figuradamente um pé nos testículos

E literalmente agravou suas dores nos ventrículos

Passou a resmungar e recitar absurdos versículos

No íntimo pensava ser um verdadeiro oráculo

Não admitia ser ele, seu próprio obstáculo

Seu preconceito virou seu pábulo**

Recitava suas lorotas sem preâmbulo

Para ele seu próprio ser era um espetáculo

Seus gestos tinha-os como esdrúxulos

O que mais lhe dava vaza eram seus óculos

Chegou até a distribuir alguns ósculos

Saía da repartição só com o crepúsculo

Na volta para casa perambulava em círculos

Esperava sempre uma palavra de estímulo

Qualquer coisa tirava-lhe o escrúpulo

Transformou-se num louco minúsculo

Assim para ele qualquer outro era másculo

Tornou-se moleque de recados do prostibulo

Findou-se construindo seu próprio patíbulo

Resolveu beber veneno num turíbulo

Do calvário foi estatelar num túmulo

Com o mundo dos vivos perdeu o vínculo

Hoje só é lembrado como um vocábulo

* cordão umbilical vegetal

** alimento

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 03/07/2013
Código do texto: T4369655
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