O CALVÁRIO DO MANCEBO
O CALVÁRIO DO MANCEBO
Aquele mancebo tinha mérito no currículo
No entanto enfiaram-no num cubículo
Seu saber vinha impresso em fascículos
Conhecia de botânica, até sobre funículo*
Sentia-se um lixo, exposto àquele ridículo
A sociedade e colegas viam-no por um retículo
Tentou rebelar-se escrevendo pífios textículos
Só ganhou figuradamente um pé nos testículos
E literalmente agravou suas dores nos ventrículos
Passou a resmungar e recitar absurdos versículos
No íntimo pensava ser um verdadeiro oráculo
Não admitia ser ele, seu próprio obstáculo
Seu preconceito virou seu pábulo**
Recitava suas lorotas sem preâmbulo
Para ele seu próprio ser era um espetáculo
Seus gestos tinha-os como esdrúxulos
O que mais lhe dava vaza eram seus óculos
Chegou até a distribuir alguns ósculos
Saía da repartição só com o crepúsculo
Na volta para casa perambulava em círculos
Esperava sempre uma palavra de estímulo
Qualquer coisa tirava-lhe o escrúpulo
Transformou-se num louco minúsculo
Assim para ele qualquer outro era másculo
Tornou-se moleque de recados do prostibulo
Findou-se construindo seu próprio patíbulo
Resolveu beber veneno num turíbulo
Do calvário foi estatelar num túmulo
Com o mundo dos vivos perdeu o vínculo
Hoje só é lembrado como um vocábulo
* cordão umbilical vegetal
** alimento