Poesia desenfreda
A vida é calma, às vezes cruel,
Mas sempre fiel.
Tudo é espelho,
Por isto, as casas estioladas
E as roupas despencadas não me agradam
Mas às vezes me retratam.
Gosto de tudo no rumo, no prumo!
Uma casa pintada de novo, de branco,
Coberta de telhas vermelhas – eis o estado de espírito
Da datilógrafa que fez os versos transcritos
Em fita de polietileno
Ficarem tão mais caprichados!
Espichados, ficaram aqueles que fiz com letra cursiva estreita
E caldo de vida sangrado...
Leves como as coisas na lua
São as folhinhas de poejo
Que pelejo pra cultivar, por causa do cheiro...
As formigas sapateiam sobre as sementeiras
Uma dança breve e perigosa
Que acaba sempre com uma folhinha no chifre miúdo e voraz.
Um formigueiro por dentro é um palácio de labirintos e espaços
Mas muito mais complexa e surpreendente é a alma da gente!
Intriga-me o verniz perfeito das asas das baratas.
Lá em cima daquela nuvem há uma oficina
Onde os anjos menorzinhos se ocupam em ajudar Deus
E disputam pra ver quem lustra melhor e mais depresssa
Cada asa,
Cada peça...
Uma gatinha descadeirada está entre a vida e a morte,
Estou torcendo por ela!...