Poesia desenfreda

A vida é calma, às vezes cruel,

Mas sempre fiel.

Tudo é espelho,

Por isto, as casas estioladas

E as roupas despencadas não me agradam

Mas às vezes me retratam.

Gosto de tudo no rumo, no prumo!

Uma casa pintada de novo, de branco,

Coberta de telhas vermelhas – eis o estado de espírito

Da datilógrafa que fez os versos transcritos

Em fita de polietileno

Ficarem tão mais caprichados!

Espichados, ficaram aqueles que fiz com letra cursiva estreita

E caldo de vida sangrado...

Leves como as coisas na lua

São as folhinhas de poejo

Que pelejo pra cultivar, por causa do cheiro...

As formigas sapateiam sobre as sementeiras

Uma dança breve e perigosa

Que acaba sempre com uma folhinha no chifre miúdo e voraz.

Um formigueiro por dentro é um palácio de labirintos e espaços

Mas muito mais complexa e surpreendente é a alma da gente!

Intriga-me o verniz perfeito das asas das baratas.

Lá em cima daquela nuvem há uma oficina

Onde os anjos menorzinhos se ocupam em ajudar Deus

E disputam pra ver quem lustra melhor e mais depresssa

Cada asa,

Cada peça...

Uma gatinha descadeirada está entre a vida e a morte,

Estou torcendo por ela!...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 04/04/2007
Código do texto: T436916