QUANDO A ÁGUA DA CHUVA MOLHA A TERRA
Pula e canta o bonito cardeal
A lagarta da folha não se solta
O preá se diverte dando volta
Nas veredas que fez no capinzal
A aranha procura o cipoal
Pra tecer sua teia além do chão
A viana imita um azulão
E ovelha, no pasto, pula e berra,
QUANDO A ÁGUA DA CHUVA MOLHA A TERRA
NASCE MUITA ESPERANÇA NO SERTÃO.
Quando a nuvem, do alto, faz despejo,
Molha o campo, o sopé e a chapada,
A cascata recebe a enxurrada
E agradece no seu catadupejo
O burrico alteia o seu ornejo
E o vaqueiro prepara seu gibão
Agradece o presságio do carão
Que inda faz seu prelúdio lá na serra
QUANDO A ÁGUA DA CHUVA MOLHA A TERRA
NASCE MUITA ESPERANÇA NO SERTÃO.
Sertanejo não pode esmorecer
Mesmo vendo o rigor da estiagem
Por ser ele de fé e de coragem,
Roubo santo orando pra chover
E se o santo tiver muito poder
Logo, logo, lhe atende à oração,
Bota fogo na bomba do trovão
E a torneira da chuva desemperra
QUANDO A ÁGUA DA CHUVA MOLHA A TERRA
NASCE MUITA ESPERANÇA NO SERTÃO.
Quando a chuva aciona o aspersor
Jorra água por toda a plantação
Nasce muita esperança no sertão
E no pomar desabrocha muita flor
O cinzento da mata muda a cor
E a pelúcia, de verde, forra o chão,
O maldito calor da sequidão
Nas entranhas do vento se encerra.
QUANDO A ÁGUA DA CHUVA MOLHA A TERRA
NASCE MUITA ESPERANÇA NO SERTÃO.
A enchente faz curva pelo rio,
O socó pega peixe na lagoa,
A canção do inverno o vento entoa
Festejando o enterro do estio
A babugem se espalha no baixio,
O roceiro começa a plantação
E pra não ir, no caudal do ribeirão,
O cascudo na lama se enterra
QUANDO A ÁGUA DA CHUVA MOLHA A TERRA
NASCE MUITA ESPERANÇA NO SERTÃO.