QUANDO A ÁGUA DA CHUVA MOLHA A TERRA

Pula e canta o bonito cardeal

A lagarta da folha não se solta

O preá se diverte dando volta

Nas veredas que fez no capinzal

A aranha procura o cipoal

Pra tecer sua teia além do chão

A viana imita um azulão

E ovelha, no pasto, pula e berra,

QUANDO A ÁGUA DA CHUVA MOLHA A TERRA

NASCE MUITA ESPERANÇA NO SERTÃO.

Quando a nuvem, do alto, faz despejo,

Molha o campo, o sopé e a chapada,

A cascata recebe a enxurrada

E agradece no seu catadupejo

O burrico alteia o seu ornejo

E o vaqueiro prepara seu gibão

Agradece o presságio do carão

Que inda faz seu prelúdio lá na serra

QUANDO A ÁGUA DA CHUVA MOLHA A TERRA

NASCE MUITA ESPERANÇA NO SERTÃO.

Sertanejo não pode esmorecer

Mesmo vendo o rigor da estiagem

Por ser ele de fé e de coragem,

Roubo santo orando pra chover

E se o santo tiver muito poder

Logo, logo, lhe atende à oração,

Bota fogo na bomba do trovão

E a torneira da chuva desemperra

QUANDO A ÁGUA DA CHUVA MOLHA A TERRA

NASCE MUITA ESPERANÇA NO SERTÃO.

Quando a chuva aciona o aspersor

Jorra água por toda a plantação

Nasce muita esperança no sertão

E no pomar desabrocha muita flor

O cinzento da mata muda a cor

E a pelúcia, de verde, forra o chão,

O maldito calor da sequidão

Nas entranhas do vento se encerra.

QUANDO A ÁGUA DA CHUVA MOLHA A TERRA

NASCE MUITA ESPERANÇA NO SERTÃO.

A enchente faz curva pelo rio,

O socó pega peixe na lagoa,

A canção do inverno o vento entoa

Festejando o enterro do estio

A babugem se espalha no baixio,

O roceiro começa a plantação

E pra não ir, no caudal do ribeirão,

O cascudo na lama se enterra

QUANDO A ÁGUA DA CHUVA MOLHA A TERRA

NASCE MUITA ESPERANÇA NO SERTÃO.

VICENTE REINALDO
Enviado por VICENTE REINALDO em 01/07/2013
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