O NOME QUE AS CORES TEM
O que você não pode entender e que já não sou normal
A tanto de mim por ai nestas ruas sujas e becos escuros
A tanto de mim nos miados noturnos dos gatos vadios
A tanto de mim no latido estridente do cão da noite
Tanto de mim...
O que você não pode entender e que talvez eu não queira ser entendido
Não quero fazer parte do sentido das coisas
Não quero ser coisas...
Coisa alguma!
O que você não pode entender é que li Bukowski e gostei
O que você não pode entender é que já vi Ginsberg uivar
Eu vi e sei o que vi...
O que você não pode entender é que agora vago por um mundo onde as cores têm nomes
E não falo do verde, não falo do amarelo, não falo do negro...
Não nem conheço mais estes nomes...
Neste meu novo mundo as cores são pessoas...
Neste meu novo mundo as cores acordam cedo (ou não) trabalham vão ao banco pagam contas...
As cores aqui podem flertar...
As cores amam e odeiam...
As cores transam
As cores pagam para transar...
O que você não pode entender e que agora eu pinto com aquarelas só minhas
Que sou capaz de colorir telas e mais telas de visões tão reais quanto oníricas
O que você não pode entender e que aprendi a seguir outro ritmo no mundo
Que agora sei onde sibilam as serpentes
Que agora sei como sibilam as serpentes...
Por cartas por sms por e-mails por telefone
La onde estão sibilam as víboras para quem quiser ouvi-las
E quem não souber ouvir?
Será picado...
O que você não pode entender e que nunca se pode parar as mudanças
E que minha parca poesia é só mais um débil grito no vazio do vácuo
Eu gritei onde ninguém mais podia ouvir
E sabe de uma coisa?
Vou gritar de novo, de novo, e de novo!
O que você não pode entender e que sou tolo o suficiente pra achar que posso fazer sempre minhas escolhas
E que sou esperto o bastante pra não fazer as escolhas dos outros
O que você não pode entender e que já encontrei refugio em garrafas de vinho barato
Que já ouvi relatos angustiados de futuros pais temendo o amanhã
E já lamentei com eles...
O que você não pode entender e que ansiei por beijos que não teria
Por corpos que não teria
Por vidas que não viveria
E espero pela morte que um dia terei
O que você não pode entender e que não me importo como começou
Mas tenho horas e horas gastas imaginando como vai terminar
O que você não pode entender e que vejo as putas nas vielas da cidade
Vejo os mendigos nas entradas dos supermercados
Vejo os ladrões nas sombras mortiças da noite
E não posso negar a realidade suja deles tanto quanto não posso negar a minha
O que você não pode entender e que vou ao banheiro mijar como todos
E já chorei sozinho no espelho mentindo que só escovava os dentes
O que você não pode entender é que o mundo não para
Mesmo que eu grite
Mesmo que eu chore
Mesmo que eu atire, escreva, ou sofra.
Mesmo que o terrorista exploda-se
O mundo não para...
Ele nunca para...
Nunca parou...
O que você não pode entender e que sou o que sou por que fiz minhas escolhas
Trágico e louco?
Patético e feliz?
Não importa pra mim...
Eu sou o que sou...
E para mim as cores tem nome.