Homem menino
Naquele mar quente
debaixo do calor do sol,
o menino corre nas areias,
deixando na beira, longe das ondas,
a isca e o anzol.
Não gosta da tranquilidade da pesca
e corre nas areias,
corre, corre o menino
pra onde corre o menino?
corre, corre, sem parar.
E o menino vê cactus nas encostas,
vê algas e peixes,
e ele tira as areias coloridas
e monta nos potinhos
desenhos de coqueiros.
O menino nada atrás de seu avô
em direção aos corais,
o menino faz castelos de areia, barquinhos,
e finge virar capitão.
O menino se funde à natureza de coração.
O menino cresce, leva a família à Pirangi,
senta naquela casinha azul,
de frente a praia,
e vê suas meninas correndo,
sua esposa nadando
no mar de águas calmas e geladas.
E o homem tira fotos para a posteridade,
vê o maior cajueiro do mundo
invadindo as ruas da cidade.
Depois de anos o menino homem
e o homem menino
não voltam de corpo
apenas de alma.
Só sua menina mais velha corre,
levada pelo vento.
E nada nas ondas calmas,
E olha as rochas de areia colorida,
E encosta em água viva
ganhando queimadura dolorida.
E a menina junta conchinhas
E a menina tira fotos para a posteridade
E a menina vê o cajueiro invadir a cidade.
Ela compra escultura de baiana e chaveiros.
Ela compra porta-jóias e doce de caju.
Ela compra coruja feita de caramujo
e guarda o vento que balança os coqueiros.
Ela sente a chuva e a maré encher
Ela vê o menino homem e o homem menino ao entardecer.
Ela corre com o menino da cadeira de rodas que quer crescer.
Tati Dalat 29/05/2013