EU VIM
Eu vim de onde vieram os meus degredos,
Das imensuráveis raízes, das genéticas,
Dentro do núcleo inúmeros segredos
Que explicam características domésticas.
Na minha voz dobra o som Iemenita,
Na cor de jambo o aspecto marroquino,
No pentateuco tem fé infinita
E tem, essencialmente, um toque divino.
A minha áurea que emana do grego
Tem o poder de atrair muitos olhares
Da mesma paz e do mesmo sossego,
Recai a redenção dos meus pesares.
Parece estranho que nasci sabendo a reza
E sei que quando canto o que não aprendi,
Sempre alguém que, por isso, me despreza,
Não sabe que não fui eu que escolhi.
Eu vim dum só lugar, das suas entranhas,
Do ventre de minha mãe, santa e querida,
Mas ao sair de lá, deparei-me com aranhas
Subindo nas paredes da minha vida.
Eu vim por minha escolha própria, eu sei,
Embora não me lembro de nada disso,
Parece que o mundo é um caos, sem lei,
Que comigo, D´us não tem compromisso.
Tudo é tão difícil, tudo é tão egoísta,
O mundo não quer saber onde moro,
Não lhe importa o meu ponto de vista,
Se fico calado, inerte, ou seu eu choro.
Eu sou, sim, o homem desta lívida lua
que nunca tem medo de sonhar alto,
que quando vai por alguma rua,
também nunca tem medo de assalto.
Ninguém me vê, sou invisível e desnudo,
uma vergonha ignorada no meu sonho,
faço da dor o meu mais forte escudo,
Por não ser milionário, eu suponho.
Eu me sinto diferente do resto do mundo,
parece que fui feito de outra matéria,
mas logo vejo que sangro profundo
e provo tanto da riqueza como da miséria.
A doença me pega ferrenho, me acomete,
então sou igual a todos os seres humanos,
não sou especial, parei de jogar confete
no meu ego que joguei todos esses anos.
A vida é de significado sem sentido
Quando não alcançamos a nossa meta,
E vou por um deserto apodrecido,
Amargando uma vida de poeta.
(YEHORAM)