Um Sentido

Caminhar pelos vales do dia, escrevi a sombra do céu ou um amor profundo, a decisão dos plátanos banharem de folhas o bosque, os estados depressivos de Munch para que entendêssemos os contornos da mágoa. E. Mesmo assim, a descrição podia ser outra, aleatoriamente os caminhos abstratos de uma hora límpida. Talvez imaginasse a realidade sem nenhum rigor, apenas a exatidão numa ou noutra palavra e a tela dos olhos num desenho mais perfeito. Caminhar pelos vales da noite com a cidade ao fundo e essas luzes intermitentes das janelas onde a vida foi a felicidade de alguém, o latir dos cães ao longe dos campos quase urbanizados de condomínios. Escrevi antes de morrer, porque tudo é antes de morrer, a promessa de cumprir todas as dívidas e deixar a memória entrar pelo átrio do esquecimento inevitável. Aleatoriamente, o presente pode ser a sensação de ficar estendido num areal sem querer mais encontrar o sentido das imagens por dentro das pálpebras.

Carlos Frazão
Enviado por Carlos Frazão em 28/06/2013
Reeditado em 07/07/2014
Código do texto: T4362277
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