Niente

Com motivos de sobra e inspiração,

transpiro as palavras, essas ingratas,

sempre comigo.

Infelizmente, sempre sozinho,

angustiado e aflito, felizmente,

vamos em vão, respirando poemas,

vendo com as mãos o mundo,

sempre de olhares mudos através de janelas.

Quem sou eu? Nunca serei, eu sei,

é tudo delírio e um pouco de literatura.

Tudo é loucura que grito entre dentes.

O fim do dia termina,

o fim do ano começa,

a dor, sempre presente,

permanece pra sempre

como um vento breve

levando as pétalas roxas da calçada.

Agora sou saudades e olheiras,

lágrimas que escorrem nas veias,

que no peito doem e trazem o infinito vazio

- universo dentro de mim,

será que existe vida?

Olhos castanhos claros que nunca mais verei,

e aquela alegria feliz por inteira, apenas memória,

a não ser que alguma criança sorria igual a você:

quero esses sinônimos que talvez iludam-me.

Sou beira sem eira.

As sobras do que fui e as cinzas do que serei

junto a cada passo - marca-passo e utopias compassadas -

sem futuro para o nada.

E no fim do dia a minha oração é rimada

- desgostos e plenitudes subordinadas -

por saber que em algum lugar existe a felicidade

- nirvana e festas de aniversário -,

por saber que em algum planeta pequeno no espaço

existe vida e abraços e toques na pele

- pequenos príncipes cheios de ternura -.

E tudo é tão fugaz que nem dá vontade de chorar,

e tudo é tão amar que nem dá vontade de amor,

e tudo é tão dizer que nem dá vontade de bem-vindo,

e tudo é tão lindo que nem dá vontade de viver.

Ferlumbras
Enviado por Ferlumbras em 26/06/2013
Reeditado em 30/06/2013
Código do texto: T4359751
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