Na rua

Oferto ao meu povo

A gota de sangue, de bile,

Qual um novo Aquiles,

O peito aberto, desnudo

A encarar, no tumulto,

A ira dos escudos.

Empunho cartazes,

Flores e bandeiras

Em meio a gases sufocantes,

Mas não recuo,

Sigo adiante

Por avenidas e ruas.

MPL e CMP,

FNDC e CTB,

Sem teto e sem terra,

Juventude socialista

E via campesina,

Marcha das mulheres

Brancas ou camponesas

Santas ou negras,

Esperança e baluarte

Para quem antes

Não tinha norte ou estandarte.

Corro de tiros e bombas,

Picho prédios e muros

E invisto com paus e pedras

Contra as novas bastilhas

A oprimir com a polícia

O coração que sonha

Sitiado por feras.

Alimento as chamas

E convoco para a briga

Pois o que me inflama

É a sede por justiça.

Sejam padres, putas ou bichas,

Nazis ou anarquistas,

Crentes ou comunistas

Seguem todos,

Juntos pela pista

Até que retrocedam

Os homens de capacete

Com armas e porretes,

Até que morram todos

Os opressores do povo,

Deputados e senadores,

Malditos saqueadores!

Tomo todas as vias

Com multidões em passeatas.

Resisto à cavalaria

Com fogo e barricadas

E à tropa de choque

Com coquetel molotov.

Verás que um filho teu

De nada foge

E que o povo unido

Tudo pode,

Porque a nossa luta

Não é por um quinhão,

Por míseros centavos,

Mas para extirpar

Conluios, vis condutas,

Corruptos ignavos

E o espírito escravo

Do seio da nação.