AS POMBAS


Ontem cheguei a desejar que se fossem para muito longe
e para todo o sempre.
Cheguei a desejar que dormissem eternamente
nos fios dos postes de alta tensão aqui da frente
e que,
lamentavelmente,
já não me passam energia,
nem claridade.
E voces,
que deles a tudo assistiam
penduradas,
também já pouca coisa me diziam -
ou quase nada.
Ah... eu já estava enjoada desse voar sem limites
e esse irritante grunhido
em meus ouvidos.

Mas,
agora,
belas pombas,
apenas famintas de milho,
agora quase me arrependo da irritação de ontem
e me ponho a pedir,
arrependida:

Voltem, pombinhas ...
Voltem aqui para bem perto desta janela
que nenhum horizonte novo hoje me mostra.
Voltem e me ensinem,
ao menos,
como é que tirando do parapeito meus cotovelos arranhados
e abrindo esses braços que se cansaram de ficar dobrados,
como é que posso embrenhar-me pelo infinito do espaço
e ser feliz , somente pelo prazer da felicidade.
E livre. 

 
Miriam Dutra
Enviado por Miriam Dutra em 26/06/2013
Código do texto: T4359235
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