Silêncio
Poupa-me da tortura.
Silencia.
És a mentira em verbo,
O sentimento ao avesso,
A projeção do descaro.
Tem-me o mínimo respeito,
Guarda a que sonhei em ti,
Feita à imagem de tua sombra.
Afasta de mim o pensamento,
Mata-me a lembrança tua,
Dissipa a bruma do teu rasto.
Sê o que queres, amada ad hoc,
Farta-te sob a mesa de outrem,
Regozija-te com as sobras.
Não mereces pessoa completa,
Mas um simulacro de gente,
Um ser opaco e burlesco.
Cabe-te alguém como tu,
Criatura algo plana e rasa,
Beleza perecível, espírito vazio.