Primavera é um pássaro negro
Uma flor tão bela
Uma estação
Uma canção na janela
A seda que veste o corpo guapo
Dela
Um livro de poesia
Nome de uma donzela
Tempo em que eu pensava
Que o amor existia
E que acabou o estio
O ciciar prolongado da cigarra
E seu ócio
Tempo que começa o equinócio
O rocio do colibri nas flores
Amarelas
Mas veio a outra estação
Despiu o lírio do seu manto
Calou o canto do pássaro negro
Deixou uma tênue folha no galho
Um orvalho congelado na pétala
Uma gota pontiaguda na vidraça
Lágrimas frias nas pálpebras
Gélidas pálidas ávidas
Românticas
E o trem a levou para outra estação
Para outra quimera
Mas enquanto era primavera
O amor era de vera
A flor bonita era
Tempo em que os lábios dela
Eram doces como o mel
E podia contemplar as galáxias
Dentro do seu olhar
E é tempo de se plantar
Beijas – flores
Paisagens no céu
Colecionar licores nas cristaleiras
Sentir o aroma das ervas na chaleira
E conjugar o verbo amar
Na primeira pessoa do subjuntivo
Tomando uma xícara de chá
Com torradas de trigo selvagem
E geleia de anana
Anis alcaçus vagem de baunilha
Declamando um soneto pra ela
A mais bela primavera
Luiz Alfredo - poeta