Depois dizem que o mundo não é mau,
que os dias não são sombrios, vazios,
depois dizem que toda essa tristeza
foram os poetas que inventaram
porque não havia ou ninguém sabia.
 
Depois dizem que o amor, essa inutilidade,
não vale nem a graça pouca de inventá-lo;
depois dizem dos versos todos da poesia,
tão tolos os versos e tudo o que eu falo,
talvez essa desgraça próxima da verdade,
que se eu pudesse também inventaria.
 
Depois dizem dos poetas, esses iludidos,
nefelibatas, heróis com sangue de barata,
que se comprazem da dor muito bem sentida;
depois dizem destes mistérios todos da vida,
impenetráveis como qualquer coisa chata,
feita de uns lirismos há muito esquecidos.
 
Depois dizem dos dias amanhecidos,
que amanheceram sem nem nos pedir,
nem nós quisemos esse ou dia algum;
porque é vida e como vida temos de sentir,
porque sentimos com este prazer nenhum,
a dor toda desses nossos dias desfalecidos.
 
Depois dizem de nós,
que esquecemos os caminhos
que agora trilhamos sós.
Depois dizem de mim,
que libertei essas palavras

só para doerem tanto assim.
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 24/06/2013
Reeditado em 19/03/2021
Código do texto: T4356177
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.