REMINICÊNCIAS
Ora dirás, cheirar mormaço,
que tolice!
Mas asseguro e ponho fé nessa premissa.
Ou não teria sido real
aquela excitante sensação dos meus dezembros
quando o calor acentuava
o cheiro da terra adusta,
o odor de capim santo
ou de outra erva qualquer
perdida no bosque?
E nesse transe,
eu voltando do Ginásio
em longa caminhada
gozando dos pequenos prazeres:
fiz boa prova final, terei férias em Salvador.
E aquela garota misteriosa
pintará de bicicleta
Na minha noite de festa de largo
em pleno Natal?
Um quarto de século depois
sinto o cheirinho de mormaço.
O mesmo cheiro, o mesmo espaço,
a mesma estação
o mesmo canto de cigarras
a mesma ilusão de movimento
do calor nos telhados
olhados à distância.
Mas para onde foram
os prazeres dos meus sonhos?
Jan. 1983