[Mentindo-me]

[Poema desentranhado da peça "Dias Felizes", Samuel Beckett]

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Se eu perdesse mesmo a Esperança,

eu seria um prisioneiro acorrentado

a um Presente em que todos

os meus possíveis seriam feitos

de sombras vindas do Passado.

Então, o moinho da minha vida

seria sim, tocado por águas passadas...

E mais: se eu mentisse Desesperança,

por simples via de consequência,

eu diria que eu não tenho mais Futuro...

Se eu perdesse toda a Esperança,

eu seria incapaz de sentir Desejo —

nada mais me restaria senão

vaguear num mundo branco,

até o Acaso me levar à sepultura...

Mas para sorte minha

e azar dos que me são próximos,

eu não passo de um mentiroso

— eu ainda desejo —

vivo mesmo é mentindo-me!

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[Desterro, 19 de junho de 2013]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 23/06/2013
Reeditado em 23/06/2013
Código do texto: T4355214
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