A Professora de Piano

Seus olhos brilham

que nem spots

iluminando o teclado

luminosidade do olhar

cintila ofuscando

a brancura do marfim

ela passeia

os finos dedos

pelo teclado...

É apenas um exercício

Como atleta aquecendo-se

A campainha interfere

provocando o interlúdio

O primeiro aluno...

Entra com cara de rock

Assobiando John Lennon

Ela sorri, mas não recua

Balança qual metrônomo

Diante dele

A partitura da aula

Sonata de Beethoven

O aluno não sorri

Mas mergulha

nota por nota

compasso por compasso

na Sonata ao Luar

Andante?

Mas deveria ser presto

Aqui é Allegro, Allegro

A Sonata vai se repetindo

Uma... Duas... Três...

Ad infinitum...

Ad Nauseam...

Exige a perfeição

Nada mais que isso

Quando um trecho

sai a contento

bate palmas

não de regozijo

mas de aviso

A aula terminou!

Abre porta,

fecha porta...

Dedilha o piano

outra vez...

A campainha

Outra aluna

Nariz empinado

Bumbum e seios também

Menina precoce

Na era do silicone

Não no rosto, mas devia

Tirar a cara de tédio

"Meu pai quer que eu

seja grande concertista!"

A professora sorri

Sorriso enigmático

"Dificil, querida, difícil!

A aula se arrasta

As horas também...

Vontade de fechar o piano

nas mãos da menina

Encerrando a aula

e a carreira irreal

Mas segue em frente.

E assim vai...

outro aluno...

Mais um...

Mais outro...

e outro...

Quando o sol diz boa noite

à Lua que vem chegando

O último se vai

Dá um longo suspiro

Reteza os músculos

Olha para fora

Sente-se cansada

Mas o piano a chama

É um amante exigente

Ela não resiste

Como hipnotizada

Pelo chamamento

Passeia as mãos

Delicadas e suaves

Bach, Beethoven

Schubert, Schuman

Rachmaninof, Lizst

Noite afora

A professora dorme

A pianista vigia seu sono.

Roberto Bordin
Enviado por Roberto Bordin em 02/04/2007
Reeditado em 20/05/2020
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