ERA ASSIM NO MEU SERTÃO

Eu nasci lá no sertão

Disso posso me orgulhar

Morei numa casinha de sapê

Tendo uma roça pra plantar

Próximo de um ribeirão

Onde eu deixava meu coração

Tranquilo se acomodar

Todos os dias bem cedo

Eu pegava a minha enxada

Meu alforje e meu facão

E a minha espingarda

E ia pro meu roçado

Com o sol me acompanhando

Pra começar minha lida

Tudo o que eu mais gostava

Era cuidar da plantação

Atrelar minha junta de bois

Ao meu velho carroção

Para depois da mata queimada

A capoeira encoivarada

Fincar as sementes no chão

No fim da tarde voltar pra casa

Ouvindo meu carro de bois cantar

Cortando o areião

Do meu encantado lugar

Eu recordava a minha infância

Os meus tempo de criança

Que não mais irão voltar

Lembro com muita saudade

A subida do grotão

Meu pai com seus passos firmes

Conduzindo o carroção

Mostrando ser um grande homem

Chamando os bois pelos nomes

Causando-me comoção

Quando a noitinha chegava

Minha mãe estava lá

A beira do fogão de lenha

Preparando o jantar

Pro riacho a gente ia

Tomar um banho de água fria

Para o corpo sossegar

Depois do jantar meu velho pai

Tomava uma xícara de café quente

Deitava-se numa rede

E ia contar pra gente

Um desses causos popular

De mula sem cabeça e boi tatá

Que não sai da nossa mente

Sob a luz de uma candeia

Eu costumava ficar

Eu pegava um folhetim de cordel

Desses de se admirar

Como o da vida de Lampião

Que fazia do sertão

Uma história sem par

E como se eu fosse um ator

Essas histórias eu interpretava

Enquanto nossos amigos

Uma fogueia rodeava

Para me ouvir interpretar

Aquilo que lhes fazia sonhar

Enquanto livres eles sonhavam

Quando o sono me chegava

Na minha rede eu ia me deitar

E a luz da lamparina

Com um sopro apagar

Deixando o corpo em abandono

Até que pegava no sono

Sem muito mais me preocupar

Pela manhã novamente

Ia pra roça trabalhar

Acompanhando meu pai

Ouvindo o carro de bois cantar

Deixando minha mãe em casa

Atiçando do fogo as brasas

Pro almoço preparar

Hoje eu vivo na cidade

E tudo o que sei fazer

Deitar-me nas minhas lembranças

Coisa que não posso esquecer

Dos meus tempos de outrora

Coisa que guardo na minha memória

Com alegria e prazer

Por isso me tornei um poeta

Desses que chamam de poeta popular

E de tudo o que já vivi

Me da prazer recordar

Escrevendo em um papel

Minha Literatura de Cordel

Que é de se admirar.

Luiz Pereira
Enviado por Luiz Pereira em 22/06/2013
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