O MENINO DA JANELA
Ainda hoje, ao passar por lá,
olho para aquela janela
e tenho a impressão de vê-lo...
Olhos compridos, fitos na rua em frente
sempre à espera do ser querido
que não voltou.
Hoje, ele não está mais lá.
A longa espera, fê-lo desistir.
Ou então porque se mudaram para outra casa.
Tinha três anos e ficava todas as tardes,
debruçado na janela
esperando o pai, de volta do trabalho.
E ao vê-lo apontar na rua,
descia correndo as escadas ao seu encontro.
Suado e cansado o pai o pegava no colo
para dar-lhe um abraço e um beijo
e subiam felizes de volta ao lar.
Assim acontecia todo dia, ao entardecer.
Mas quis o destino cruel
que aquela felicidade não durasse.
Veio o atropelamento do pobre homem
numa rua antes de chegar em casa
e ele não pode mais voltar.
Mas o menino não entendia
porque o pai não voltava
e ficava à sua espera naquela janela.
Anos se passaram até compreender aquela espera vã.
Não conseguiu mais sorrir.
Não conseguiu mais viver.
Se olhar pra sempre se perdeu
e todos que ali passavam podiam vê-lo
naquela vigília incansável.
Hoje a casa está fechada, mas quem por ali passa
não se esquece daquele menino triste
de olhar comprido esperando o pai
que a vida ingrata não deixou voltar!