SUSTENTÁVEL
®Lílian Maial
 
 

Aquele braço amarelo ainda passeia no ar,
inserido num azul céu pálido de poeira.
O horizonte parece de concreto.
Há resíduos de argamassa, meu amor,
em sua roupa.
 
O que dizer de andaimes no peito e vales transporte?
 
A grua amarela dá mais uma volta no tempo
e os homens todos amarrados ao perigo.
 
Sobe mais um patamar.
Degraus levam ao firmamento
e os homens mais perto do paraíso.
 
Na marmita, o que sobrava de futuro foi cozido
com batatas em água e sal.
Queria lhe dizer para ser feliz, meu amor,
e lhe garantir o endereço da paz.
Há marcas de reivindicações em seu macacão de índigo.
 
Não sei desde quando aquela viga de aço sustenta as coisas.
Só consigo ver cinza e distância,
onde antes era plano e rotina.
 
Queria lhe deixar um bilhete no bolso,
arrancar um sorriso fora de prumo.
Mas hoje tudo é massa e vergalhão.
 
O braço amarelo, mais uma vez, gira e gira e gira
e leva um bloco de pedra para o amanhã.
Há uma sombra de cimento nos seus olhos, meu amor.
 
 
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