PREENCHENDO
Como eu queria preencher o branco
dessas páginas inúteis e vazias
com a aridez do meu jeito tão franco
que ficou cravado, em mim, nesses dias!
Preencho-a com o vinho tinto
Que tomei na nossa lúbrica ceia
Que na penumbra, este soturno absinto,
Fez verter o tempo em grão de areia.
E a branca página, agora tão bonina,
De lágrimas das letras desta solidão,
Cujo seu motivo, era motivo de menina,
Ter todo amor na palma da mão.
O que não me falta é um bom motivo
Para colher as flores que plantei
no meu jardim que hoje inda tão vivo
por este tempo que tanto esperei.
E os restos da candura deste amor
que encheu forte o meu coração
possam de novo remover a dor
que já me fez sofrer de solidão.
De novo o amor quer me amargar,
Porque o mel que escorre tem ferrão,
nem sempre é doce o sabor de amar,
nem sempre é mel que escorre da paixão.
(YEHORAM)