II
Era uma vez um menino que sonhava ser príncipe.
Não para ter riqueza ou poder,
Para ter um amor.
Mas a vida o fez acreditar
Que nem todos podem ser nobres
E por mais tempo que qualquer pessoa merece,
Ele se fez comum.
Ninguém mais enxergava as borboletas no campo.
Era tudo tão cinza, tão vulgar.
Ele se fez vulgar também.
Já não havia mais espaço para os clássicos.
Ninguém mais se interessava pelas belas artes.
A poesia era fora de moda.
A cultura, ainda que sem grandes aprofundamentos,
Era enfadonha.
Seu destino, então, era a ilha desconhecida
Ou se adaptar à dureza do tempo em que vivia.
"Já não existem mais ilhas desconhecidas" - lhe disseram.
E ele, então, se conformou com o tempo em que vivia.
Mas neste tempo, os carros andam muito rápido.
As pessoas sabem tudo, sobre tudo
E tão pouco sobre o que importa.
Há mais tons de cinza do que deveriam.
A música toca muito alto e não se ouve quase nada.
Os heróis, nem de overdose morrem mais,
São esquecidos após duas semanas.
Então, de tanto viver assim, o menino cansou.
Cansou e disse: "Não há de ser nada!"
E foi resgatar o tempo perdido.
Foi buscar a tal ilha desconhecida
Que lhe asseguravam não mais existir.
Ao iniciar a viagem,
E descobrir que o mundo não era tão cinza assim,
Uma dor recorrente lhe acompanhava:
"O que eu fiz de mim?", "Quanto tempo eu perdi?"
Foi então que uma daquelas borboletas
Que ninguém mais está apto a enxergar
Lhe pousou bem na ponta do nariz.
Então, ele entendeu o grande mistério:
Que o tempo perdido, na verdade, era o caminho necessário.
Que o que foi feito, o foi por aprendizado
E que tudo o que somos, é cada pouco daquilo que já fizemos,
Que já fomos.
E que a borboleta só em quem a vê.
E que a borboleta só pousa quando vale a pena.
Não há, então, arrepedimentos.
Vida, estamos em paz!