Comunhão
Se faço em mim, alma e corpo,
Como eterna e vão,
Celebro ambos como uma oração.
Ela, se será a sobra dos meus eus, vagará em lembranças, pulsações.
Ele, invólucro de ser, naufragará aos vermes desfazendo ilusões.
Se fundo em mim, alma e corpo,
Como brasa e tição,
Atiço-os ambos numa ferveção.
Ela, se é o que dá sentido a existir, inflama minhas paixões.
Ele, se é o que sente e se arrepia, é o próprio fogo e seus clarões.
Se sinto em mim, alma e corpo,
Como céu e chão,
Percebo ambos qual aberração.
Ela, que não vejo e sinto, impõe a mim condições.
Ele, sendo só o terreno, se faz estéril campo sob turbilhões.
Se vejo em mim, alma e corpo,
Como silêncio e canção,
Entendo ambos em complementação.
Ela, que não ouço, constrói pausas entre exultações.
Ele, explodindo em sons, explicita aquilo com que comungo e minhas celebrações.