ALGUEM FEZ A ESCOLHA
Quem fez a escolha disse a verdade?
Quem fez a escolha?
Quem iniciou a jornada sabia o caminho?
Estradas vicinais, trilhas pontes...
Quem fez a escolha?
Quem pode esconder no fundo do olhar o não dito?
Na morada da serpente os frutos amargos
Nem céu nem terra
Turíbulos de fogo
E medo?
Quem fez a escolha?
Quem sepultou os mortos leu a lapide?
Despedidas no baixo hemisfério do mundo
Algumas lagrimas
Nenhum uivo
Mas muitas matilhas
Quem fez a escolha?
Quem a acolheu o inocente tem bom coração?
Nenhum véu negro sobre o rosto?
Nenhum segredo?
Quem fez chover na segunda sabe o que é certo?
Observa nos altares das igrejas?
Quem viu o culto?
A noite é diáfana e triste
A foice que derruba o trigal já travou outras batalhas?
Coberta hoje de orvalho outrora de sangue
Quem fez a escolha?
Quem escreveu os livros importava-se com as mensagens?
Passava noites insones?
Universo infinito na mente
Estórias tormentos e sonhos
Quem leu Ginsberg sabe do que falo?
Quem entendeu Corso também...
Até Quintana...
Quem sabe?
Quem fez a escolha?
Quem escapou para a noite?
Quem conheceu as tardes silenciosas do sul?
O mar lançando melodias na praia
Canto de mil serias e mil marujos
Velhos e tristes lamentos
Caranguejo bêbado?
Quem fez a escolha?
Quem encontrou o poema no velho caderno?
Garranchos inescrutáveis em celulose amarelada
Tão efêmero em sua breve vida
Indelével nas marcas que deixa
Eu olho o céu nublado de junho
O vento litorâneo me cerca e açoita
É esta a vida que levo
Pergunto...
Quem fez a escolha?