Frio na alma

Euna Britto de Oliveira

BH, 08/12/89

Feriram o veludo do pêssego...

Há coisas que não me falam mais ao coração

Ou só de vez em quando o fazem...

Falta comunicação entre os homens.

A cidade de brinquedo a meus pés

É de telhados vermelhos.

No sul da Itália,

As casas de verdade são cor de terracota,

Acompanham a pintura das casas de Pompéia...

Tenho filho e frio.

Ontem mesmo comprei velhas partituras

Que me fizeram espirrar.

Certamente tinham fungos,

Coloquei-as ao sol.

Alguém, além de mim, toca piano, na rua.

Acho bonito.

A santidade consiste em sarar na mesma hora,

A alma.

Em se recompor,

Sejam quais forem as desestruturações...

Por ventura, o vento invade o tempo?

Pois é do fundo do tempo que sopra esse vento

Que me varre a alma

E me deixa nua e só

No cimo de um morro.

Rodeada de olhares, estou.

Há um coqueiro – não me esconde,

É fino pra meu porte.

Meu coração

Ontem mesmo inexistia...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 02/04/2007
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