A um Menino de Rua
Perdoa-me. Perdoa-me, por saber-te tão carente e desprotegida,
e não fazer nada para te ajudar.
Perdoa-me por eu fazer parte de uma sociedade tão medíocre e
arrogante, que muito contribui para o teu desalento.
Perdão te peço, menino de rua, por saber-te tão dependente da bisnaga
de pão que todos os dias tenho à mesa e nem sempre agradeço por isso.
Perdoa-me por não afagar os teus cabelos, e nem te olhar nos olhos
tão tristes e esperançosos.
Queria falar-te, o quanto me dói ver-te a mendigar, saber que crescerás
assim e contribuirás para semear o ódio que hoje plantamos em teu
pequenino coração.
Não sabes tua origem, e nem para onde vais, e, eu consciente sei, mais como
os outros me calo e ignoro, porque todos assim o fazem.
Será menino de rua, que só tens direito às ruas?...
Assim mesmo, junto aos teus amigos, brinca com a tua própria sorte.
Se eu fosse tu, menino de rua, tão cedo, já teria matado ou morrido.
Aparecida Camilo.