RUMO AO CAIS
Onde não havia mais becos eu deixei meu ódio
Segui pela cidade viciada rumo ao cais que estava sujo
Eu fedia ao dia inútil que ainda estava agarrado em mim mesmo naquela hora final
Eu caminhava pesado de todos os moribundos sentimentos e pesares que meu corpo insistia em ter
Apegado à maquinaria falha destas cidades eu seguia cego
Não via a luz do alvorecer
Não via a cor que tem o parque
Não via o mar
Em algum lugar a minha volta vozes bêbadas e vorazes gritavam maldiçoes
Homens sem rumo e sem coragem vagando na terra de ninguém
A calçada por onde eu seguia era pegajosa e enervante
Não tinha meu vinho na Mao
Nem um misero copo de cachaça que fosse
Mãos vazias na verdade
A não ser pelos calos
E pelo sangue
Eu vagava pela noite jovem recém-nascida fugindo da cena de meu próprio crime
Atrás de mim vozes aturdidas
Atrás de mim... La onde já nem se podia mais ver punhos em riste prometiam vinganças impossíveis
A minha frente às ruas dançavam abrindo e fechando esquinas sinuosas e sóbrias
A minha frente vielas e passadiços vazios a não ser pelos ratos e pelas putas
Eu vou em busca do cais
Com os ouvidos cheios dos ecos de um crime
Com a mente torpe de bebida barata
Com as mãos tingidas de sangue alheio
Vou em busca do cais
Cobrar dele o que não admito mais que me seja negado
Vou para o cais fétido desta metrópole doente
E vou afogar nas águas imundas um torpe criminoso
O criminoso que sou.