Mares imensos

Afogo-me de desejo.

Desejos insanos e intensos.

Possíveis como mãos entre as pernas...

Dentes mordiscando seios.

É pouco, rasgar a carne e

assoprar por tudo que transpira...

Salivar todos os poros,

conhecer o mundo e se perder em sal.

Cravar o totem de carne que une céu e inferno...

Encontrar-se além de qualquer hemisfério,

ser momento, ser um só e não ser nada.

Ser nada, e ser fogo em chuva, luta de elementos no gozo do dia...

Dia que se satisfaz num guizo de corpos e formas,

chegando a um prazer tão intenso quanto um orgasmo.

Morrer pela beleza, acordar na crueza do desejo sem cura...

Sangrar para escrever o nome a ser

esquecido entre os fluidos do prazer.

Prazer de desgraçados andarilhos que caminham para a morte...

O faminto amor, fome dos séculos que um toque redime.

Tonteiras da carne, emissária e destino.

Cometendo carnificina, fazendo-se de desavisado...

Tocaia insana, devoradora de desavisados.

Sacia tua fome alimentando-se de pobres meninos

amargurados e mal amados...

E incautos senhores de vara em riste.

Ser todas as mulheres e dores, ser o esquecimento.

Guardado num resto de nada, a espera de algo tão breve quanto os efeitos do ópio...

Sem tempo para desculpas, culpas,

tão eterno quanto os efeitos do olhar amado.

Que se desfaz e se reconstrói num leve sopro de vento...

E tatua insanamente para sempre...

só agora, vem, me toma,

toma o que sou e devolve para o mundo a menina corrompida...

Sinta-se desflorada por minha angustia.

Atormente-se com meu tormento.

Ouça os maldizeres de minha alma impura

Tolices ditas, o vento já esqueceu por mim tua sina...

Mas o intento, ele, nos arrastará sem medo pelos

caminhos do conhecimento, dentro e fundo...

Além de constelações e mares.

Entranhas e sonhos, mistura fina de delícias.

Que de tão fina vira pó e perde-se na imensidão...

Poeira de estrelas, tudo acaba por poesia, mas ele,

o impetuoso e amoral amor,

acaba em poesia e ri de nossa tensa entrega...

Nossa história em versos alheios,

nosso estrago em linhas malditas,

nosso suposto amor perdido em letras, mostrando-se para mortais...

Escárnio nenhum corrompe o inteiro,

o inteiramente único momento em que nos estragamos ao outro

e já não somos, apenas queremos e temos...

Somos um amontoado de ideias loucas,

um bocado de pouca coisa, que se constrói para olhos loucos

e se despedaça para os pobres lúcidos...

Muito é pouco, confesso, professo o prazer,

ando tantã, burra, olhos abertos noite a dentro,

mas o gosto, o gosto da pele quente me despedaça em paz...

Transforma-me em guerra roída, mal acabada e quase perdida

Pedindo colo, vadia e morninha, dizendo,

sim senhor, sirva-se. Sirva-me!

(Maria Lucia Jeunehomme Borges e Leticia Borges)

Lélia Borgo
Enviado por Lélia Borgo em 10/06/2013
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