DESPERTAR NA BARRA
Suave marulho
e canto de pássaros
trazem, com a brisa,
o meu despertar
para novo dia
Maré mansa,
natureza atenta;
prenúncio de sol
faz apagar
as luzes da avenida
Meu olhar passeia
em direção à praia
o Forte me acena
com fortes emoções
evocações passadas
Subitamente
vozes caminham para o mar
sem pressa
e os barcos fundeados
parecem falar das proezas de ontem
O barulho dos automóveis
e palavrões sonoros
avisam que a cidade acorda:
velhos e jovens se exercitam
ao longo da praia
O barraqueiro se levanta sonolento
passa um cachorro vadio
que emplaca seu primeiro poste
e a moça espera
no ponto de ônibus
Olho a baia
em toda a sua extensão
por instantes
alimento a esperança
de que o seu abraço
me envolva aqui, para sempre,
não me deixando sair
nunca mais.
Olho o relógio,
são seis horas da manhã.
Salvador, 1984